domingo, 26 de setembro de 2010

Literatura Trajectorial - 25/09

Cruzar trajectórias num dado instante. A velocidades diferentes de vida, duas trajectórias encontram-se numa posição. Em Física, tal descrição é simples de entender. Na vida real? A situação é complexa. Muito mais complexa.
No meio real, uma vida traçada encontra, pelo menos, mais de 20 outras vidas pelo caminho no seu dia-a-dia de trabalho. A maioria nem é registada de tanto uso. Mas por vezes, uma simples linha de personalidade própria consegue captar a nossa atenção. Essa linha cruza, volta a cruzar e, em menos de nada, distorce o nosso trajecto. Essa linha, é uma linha de emoções fortes.
Não há cruzamentos a menos que os aceitemos. É uma das regras básicas do relacionamento. Ninguém é obrigado a conhecer ninguém, ou se é, não deveria. No entanto, as capas podem muito bem à primeira vista serem tão apelativas e esconder tão bem os pequenos rasgões que não querem que se veja, que nos deixamos levar. Como um livro: escolher, ler a síntese, passar à leitura extensiva e tirar conclusões críticas. A diferença entre os livros e as relações, é que estas são movidas pelo sentimento e pela expressividade. Os livros, por sua vez, movem-nos, mas transmitidos os nossos sentimentos, estes não possuem a capacidade de nos dar a moeda em troca. Os sentimentos contidos nas páginas imprimidas mantêm-se constantes.
Por tal, te digo: não sou um livro. Mas a relação que se instaurou quando cruzaste o meu caminho, manteve o meu sentimento imutável.
As duas trajectórias já se desviaram tanto do que era suposto, que o que fica é a tristeza de não poder voltar ao primeiro encontro. Desviaram-se tanto, que dúvidas assombraram, vontades reacenderam e memórias foram retiradas da terra.
A vontade é algo que nos entra no pensamento para que a queiramos, para que a persigamos, busquemos adquirir. Mas que irei eu perseguir? A linha que em primeiro se cruzou? Ou as distorções que me foi provocando? Ou talvez nem uma nem outra. Talvez deva perseguir-te. Talvez não seja pela linha nem pelo mal que me fez. Talvez seja pelo facto de simplesmente ser. Pois garanto-te, a ti mais que ninguém, que nunca irei entender.
"Os opostos atraem-se." Sempre considerei esta frase a mais falsa das falsidades. Pelos vistos, a falsa era eu. Pelos vistos, há coisas que a minha mente nunca irá entender e aceitar com um simples "é porque é e nada mais".
Tenho de o dizer. Conhecer-te revelou-te um oposto. Tudo o que tento não ser e acabo por ser contigo. Porquê? Não faço ideia. Não me revelam mais que isso.
Tantas vezes me iludiste, tantas vezes me fizeste acreditar que era apenas uma fase. Agora que aceito o presente, me dizes querer de volta o tanto que de mim não escreveste. Perante isto, e reprimindo todas as vontades e sentimentos, a única explicação que encontro é gozo. Com certeza, é gozo. Infelizmente, não sei o que é real.
Se fosses um dos meus livros, a minha leitura estaria inacabada. Tudo o que ficou por ler, tudo o que ficou por conhecer, é um desejo que prevalece. Simplesmente não o vês porque te cegas colocando páginas de uma outra história antes da nossa. Dei-te a escolher: a história recente ou a história inacabada... a que mal começou? Fizeste uma escolha. Preencheste-me com tristeza, pois de uma forma ou de outra, permaneces. Fica pois com as tuas páginas escritas e com as tantas mais que vais escrevendo. Eu escreverei as minhas com uma lágrima escondida, pois o amor não cessa mas manter-se-á de pé, defrontando as restantes páginas brancas que permanecem em branco.

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