sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Escrita

Hoje apetece-me escrever. Com tinta, com carvão, com cera, com cal... Com tudo.
A minha vontade emana do interior como um ovo a eclodir, cuja racha levará à nascença de um novo ser.
Não sei, apetece-me escrever. Esta força interior, força de mil e um soldados, quer libertar-se. E assim o vai fazendo, aos poucos, tomando posse da minha razão.
Mas com tanta persistência, tanta determinação para que a mão se mexa e convoque, sem controlo e intenção, me sacode com um saco de temas-resposta a uma pergunta comum:
                                     Sobre o quê escrever?
Uma excelente pergunta numa situação destas. Sobre o que irei eu escrever?
Poderia escrever cânticos românticos, peças teatrais, poemas sentimentais ou alegóricos... Ou até descrever situações, elogiar e criticar personalidades, criar uma nova ideologia... Enfim, as possibilidades rondam a casa do infinito.
Não sei. Que hei-de escrever? Se pego num papel branco, o rabisco me guiará a um outro e mais outro, de onde sairá um "desenho". Mas sobre o quê "desenhar"?
Poderia "desenhar" tudo o possível e mais. Entre a minha vontade imprópria de escrivã e a futura obra amadora, reside a pequena folha de papel. Uma misera e simples, no entanto, complexa e confusa folha de papel.
Não sei sobre o que escrever.
Tudo me passa pela cabeça; tudo me vem à tona. Porém, não consigo definir e restringir uma só escolha, uma só decisão.
Chiça! Quem diria que a escrita poderia ser tão complicada! Ando às voltas numa batalha constante em busca do meu tema-principal e nada feito. Nesta batalha ninguém parece ganhar, com tantos gostos e tantos interesses por onde escolher. Nem mesmo os favoritos se parecem decidir acerca de quem será transposto para o papel. O que fazer?!
Não sei! Não sei o que fazer! Não sei!
E agora? Como fazer a escolha? Como interceptar o meu figurino?
Não aguento mais tanta confusão e indecisão!

E com isto, desisti de escrever escrevendo.

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