Jamais pensei ser pessoa de olhar o precipício com olhos de quem procura loucamente paz de espírito, mas... Chega. Não mais.
Agradeço palavras de conforto, aceito tentativas de animação, aplaudo quem não me falta à verdade. Mas ninguém - repito, ninguém - saberá alguma vez o que é ser o que sou. Apesar de existirmos num mundo onde a novidade psíquica é rara, ninguém poderá compreender na totalidade o que é ser EU. O que é ser este ser único, que vive num meio que o repudia e o afasta. Este ser abatido, cansado da vida que leva (e que, ironicamente, lhe impuseram com certezas de que esta seria melhor). Este ser irritado, dono de uma ira capaz da morte. Este ser que agora, perante o Universo, desiste.
Chegará o dia em que se aproximarão do motivo, mas não mais. Perdurará em suspensão no tempo o "porquê", até ao esquecimento. E a resposta? Essa levarei comigo. Segura e livre de mãos alheias a quem o assunto não diz respeito. Pois não há ninguém mais acertado que eu para guardar o segredo da minha fúria existencial.